sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Papa Bento 16 critica duramente corrupção na África

Usando linguagem excepcionalmente dura, pontífice pede que políticos combatam escândalos, injustiça, ganância, mentira e violência

O papa Bento 16 pediu, de forma contundente, que os líderes africanos não tirem a esperança de seu povo. "Não desliguem suas populações de seu futuro mutilando seu presente", disse o papa.
As declarações foram feitas em Cotonou, na República do Benin, durante o segundo dia da visita do papa à África, perante uma plateia composta por líderes políticos, econômicos e religiosos do pequeno país do Oeste do continente, assim como representantes de nações vizinhas.

Foto: AP
Bento 16 acena para fiéis Ouidah, na República do Benin

Usando uma linguagem excepcionalmente dura, segundo analistas, ele pediu que as autoridades africanas acabem com a corrupção. "Adotem uma posição ética corajosa em relação a suas responsabilidades", disse o pontífice. "Há escândalos e injustiças demais, corrupção e ganância demais, erros e mentiras demais, violência demais, o que leva a miséria e morte."
"Todo povo quer entender as escolhas políticas e econômicas feitas em seu nome. Eles percebem a manipulação e sua vingança é às vezes violenta. Eles querem participação em boa governança", afirmou. "Sabemos que nenhum regime político é ideal e que nenhuma escolha econômica é neutra. Mas estes devem sempre servir ao bem comum. Enfrentamos demandas legítimas, presentes em todos os países, por uma maior dignidade e sobretudo por uma maior humanidade".

Vodu

Mais tarde, o papa vai emitir uma orientação do Vaticano sobre como a Igreja Católica da África deve lidar com as tensões entre muçulmanos e cristãos e com a competição dos movimentos evangélicos, cujos cultos dinâmicos vêm atraindo mais fiéis. O documento - a ser assinado na cidade de Ouidah, o berço simbólico do Vodu - deve pedir reconciliação, paz e justiça. O papa deve pregar ainda o reconhecimento de elementos de culturas e religiões tradicionais, se eles forem compatíveis com os ensinamentos da Igreja.
O pontífice vai, no entanto, alertar que as pessoas devem rejeitar a magia e bruxaria, condenados pela Igreja por seus "efeitos negativos nas famílias e na sociedade".
A África é o continente em que a fé católica cresce mais rapidamente no mundo, mas no Benin o Vodu é uma religião oficial e muitos dos que são cristãos ou muçulmanos incorporam alguns elementos do Vodu em suas crenças, especialmente em momentos de crise.
"O Vodu é mais que uma crença, é um estilo de vida, incluindo cultura, filosofia, língua, arte, música, dança e medicina. Os líderes do Vodu pedem aos deuses que intervenham em nome das pessoas comuns, mas os moradores locais frisam que isso não tem qualquer ligação com feitiçaria ou magia negra. As pessoas aqui não espetam agulhas em bonecos para causar problemas para seus inimigos, como se vê em alguns filmes ocidentais", explica a repórter da BBC África Virgile Ahissou

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Árvores adubadoras fazem sucesso na África

Centenas de milhares de agricultores familiares da África Austral estão utilizando arbustos e árvores de crescimento rápido para fertilizar seus campos naturalmente e, assim, aumentar a produtividade e rendimento.

Cientistas do ICRAF (World Agroforestry Centre – em português, Centro Mundial de Agrofloresta), uma ONG de pesquisa no Quênia) analisaram o trabalho de duas décadas voltado à introdução das “árvores adubadoras” nas propriedades rurais africanas. Os resultados foram publicados no último mês, na revista International Journal of Agricultural Sustainability (edição de 14 de outubro).

As árvores adubadoras, como a acácia, capturam nitrogênio do ar e o transferem para o solo em um processo conhecido como fixação de nitrogênio. Isso ajuda na assimilação de nutrientes e aumenta a produtividade das lavouras, com potencial para dobrar ou mesmo triplicar as colheitas. As árvores também melhoram a eficiência hídrica das propriedades e ajudam a prevenir a erosão do solo.

“Quatrocentos mil agricultores da África Austral (Malaui, Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue) estão utilizando árvores para impulsionar suas produções, e há ainda milhões de agricultores familiares carentes de recursos que poderiam se beneficiar delas”, declarou Oluyede Ajayi, primeiro autor do estudo e cientista sênior do ICRAF.

Os pesquisadores observaram que a produtividade do milho e o rendimento dos agricultores são significativamente mais altos em áreas onde as árvores são utilizadas. Na Zâmbia, por exemplo, os rendimentos dos agricultores que usam árvores adubadoras foram de, em média, US$ 230-330 por hectare, enquanto o rendimentos daqueles que não usam árvores foi de apenas US$ 130. Este aumento na renda proporcionou alimentos para até 114 dias extras.

Segundo Ajayi, a fertilidade do solo cumpre um papel crítico em assegurar a segurança alimentar para agricultores familiares em muitos países africanos. Para ele, é preciso empreender esforços para tirar vantagem de todas as opções disponíveis – incluindo as árvores adubadoras – ao invés de travar inúteis debates acadêmicos sobre fertilizantes orgânicos versus inorgânicos.

Ele sugere a criação de políticas e programas institucionais que possam apoiar o uso das árvores adubadoras e a disseminação de informações sobre seus benefícios. (…)

Fonte: Fertiliser trees prove a hit in southern Africa – SciDev Net, 03/11/2011/Mercado Ético